Um dos primeiros locais do país a adotar medidas de isolamento social mais rígidas, Fernando de Noronha se torna um exemplo no combate à pandemia de COVID-19 ao zerar casos em toda a ilha.
A ilha, localizada a 545 quilômetros do Recife, registrou 28 infecções ao todo desde o primeiro caso diagnosticado em 27 de março. Desde desse dia, a administração da ilha se mobilizou para conter a contaminação dos moradores.
Entre as medidas implementadas na ilha, se destaca a quarentena obrigatória mais rígida, que foi seguida com solidariedade por todos os moradores. Apenas após solicitação junto a administração local, trabalhadores de alguns serviços foram autorizados a seguir com suas atividades.
Todos os casos confirmados de COVID-19 na ilha apresentaram cura clínica
A ilha foi fechada para turistas no dia 21 de Março e os voos foram reduzidos para apenas dois semanais, exclusivos para moradores e para o abastecimento da ilha. O primeiro caso na ilha foi confirmado no dia 27 de março, o de um funcionário do Aeroporto local Wilson Campos, um homem de 48 anos. Nove dias depois, e com apenas mais 7 casos confirmados, a entrada na ilha foi proibida até mesmo para moradores , o acesso às praias mundialmente famosas por sua beleza única foi bloqueado, e as aulas nas escolas foram suspensas.
Foi no dia 20 de abril, enquanto o restante do país enfrentava números assustadores de contaminação, Fernando de Noronha implementou a quarentena obrigatória. A partir desta data, para circular por vias públicas, cada morador precisa responder um formulário online, com poucos dados pessoais, informando a data e o horário que pretende sair e voltar de casa com justificativas, e enviar para a administração local. Ao analisar cada formulário, é respondida a solicitação após algumas horas por SMS. Os moradores devem baixar sua autorização e levá-la consigo ao se deslocar pela ilha.
Após essas medidas, os dois últimos casos foram confirmados em 22 de abril. Nos 16 dias seguintes, sem nenhum novo caso confirmado, e com cura clínica dos dois últimos pacientes, a ilha de Fernando de Noronha consegue zerar seu quadro de infectados. Todos os infectados foram curados, sem nenhuma morte, outro motivo de orgulho para a população da ilha que seguiu com cuidado todas as medidas de prevenção.
“Mostramos ao Brasil e ao mundo que o isolamento é o caminho correto. Fizemos e está aí o resultado: 100% de curados e nenhuma morte”, afirma com orgulha o administrador da ilha, Guilherme Rocha.
Prática da pesca continua na ilha
Boa parte da população do arquipélago de Fernando de Noronha pratica a pesca como meio de sustento familiar. Com isso em mente, algumas medidas foram implementadas com o objetivo de possibilitar a prática sem colocar a vida dos pescadores e suas famílias em risco. As medidas implementadas foram as seguintes:
– Em toda a extensão do arquipélago, as atividades de pesca ficam restritas a grupo de três pessoas por embarcação;
– A administração e as autoridades portuárias e de vigilância sanitária farão visitas periódicas para verificar as condições disponibilizadas aos pescadores para higienização das instalações, das embarcações, do pessoal envolvido e dos pescados, para garantir a segurança sanitária de todos;
– Somente compradores autorizados terão acesso ao mercado de peixe e aos vendedores e seus representantes autorizados;
– Em caso de sintomas, não embarque. Procure o serviço de saúde.
Pesquisas serão realizadas para estudar o retorno das atividades na ilha
Numa ilha em que 95% da população sobrevive do turismo, as medidas de lockdown começam a preocupar o empresariado local. Com isso em mente, a administração local estuda alguns planos.
Com previsão de início ainda na primeira quinzena de maio, um estudo epidemiológico deve ser feito com 900 voluntários moradores de Noronha, entre homens e mulheres de diferentes faixas etárias, a fim de avaliar a circulação do coronavírus.
O estudo também prevê entender melhor o comportamento do vírus em Noronha, onde cerca de 80% dos casos da doença são assintomáticos.
Os resultados são fundamentais para avaliar a necessidade de outras medidas de proteção e o retorno das atividades no destino.
Por enquanto, o aeroporto Wilson Campos segue com pousos proibidos, e as 31 famílias noronhenses que estão retidas no Recife continuam recebendo cestas básicas, em uma parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado e a Administração de Fernando de Noronha.
Praias reabertas pós-isolamento do COVID-19
A mais nova boa notícia é que desde a segunda-feira (25) os moradores da ilha já estão com livre acesso às praias. Elas ficam liberadas das 8h às 16h e essa decisão foi tomada graças aos casos de COVID-19 que foram zerados.
Mesmo com esse retorno ainda existem algumas regras que precisam ser respeitadas como o distanciamento físico de 2 metros, o não uso de bebidas alcoólicas e a proibição de aglomerações com mais de cinco pessoas.
As praias do Parque Nacional Marinho, como Sancho, Leão, Atalaia e Sueste, continuam sem receber visitas por determinação do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) e Noronha ainda segue fechada para o turismo por tempo indeterminado.
Vidas salvas: o resultado de uma ilha unida pelo bem-estar geral
Com a colaboração de toda a população, medidas mais rígidas de isolamento social, e uma administração pública de qualidade, Fernando de Noronha se torna um exemplo para o restante do país. A atual pandemia de COVID-19 é um cenário passageiro, entretanto, as mortes causadas pelo vírus são irreversíveis e devem ser evitadas. Nesse momento, acreditamos que a solidariedade deve prevalecer, e juntos vamos superar esse período delicado.